Terra Atlantica – Beyond The Borders (2022)

Navegantes germânicos chegam no seu pico criativo até aqui

Por Luiz Athayde

Quando a banda alemã Terra Atlantica apareceu com seu primeiro disco, A City Once Divine, em 2017, já era uma grata novidade no power metal. A temática girava em torno do steampunk, e as músicas traziam a pegada típica do estilo, mas com boas doses de chiclete nos refrãos.

Terra Atlantica (Foto: Divulgação/Press)

O segundo álbum, Age of Steam, lançado em 2020, consolidou o conceito da banda formada em Hamburgo na classe de 2014. Novamente eles trouxeram um registro sólido e com aquele gosto de quero mais.

Ainda assim, as comparações poderiam ser inevitáveis; Helloween, Edguy e correligionários. Mas, cá entre nós, qual o problema nisso? Nenhum, se feito a fim de buscar uma identidade própria. E é exatamente o que acontece em seu novo e inspiradíssimo trabalho, Beyond the Borders.

O título traduzido significa “Além das Fronteiras” em português. E não poderia ser mais assertivo (para não dizer simbólico). Suas 11 faixas ultrapassam qualquer limite do que pode ou não ser inserido em sua música. O resultado disso é uma gama de nuances sutis, e outras mais explícitas.

A embarcação é chancelada pelo carimbo da Pride & Joy Music, e apresenta os talentosos Tristan Harders (voz, guitarra), Nico Hauschildt (bateria), Julian Prüfer (baixo) e David Wieczorek (guitarra) em um álbum ambientado no ano de 1848. Leia-se: fantasia regada a elementos históricos; com navegações, batalhas e pirataria.

A trilha é condizente com uma atmosfera lindamente sinfônica, riffs velozes e pedais duplos à medida que a saga avança. O começo se dá com “Overture”, ao preparar o ouvinte para “The Scarlet Banners”. Ou ‘Rhapsody dos mares’, tendo em vista sua abordagem remetida à banda de Luca Turilli.

Só que é em “Far From Alive” que a nova cara do grupo se mostra. Ou seja, power metal sim, melódico com toda certeza, mas explorando novos terrenos sonoros. Sua introdução já é um dos momentos mais bonitos da obra, mas ela simplesmente cresce no seu desfecho, com coros realmente empolgantes, como se estivéssemos em um espetáculo teatral. A faixa-título vem logo a seguir sem sequer dar tempo para respirar. Um deleite para o metal melódico nos seus moldes mais clássicos.


Na sequência, o grupo aporta na Espanha para nos brindar com um grande momento. Me refiro a “Sun Of Pontevedra” (ou Ponte Vedra, capital da província homônima na Galiza, no noroeste do país) e seu refrão marcante após uma introdução flamenca. Já “Guns And Drums” é um interlúdio de viés folk, e dos mais pesados.

“Just One Look” é uma linda balada, e conta com o brilho de Katharina Stahl, que já havia aparecido nos discos do Terra Atlantica. “Hellfire” esquenta os canhões novamente em uma explosão power/speed metal sinfônica sem dever nada à velha escola.

Os alemães seguem pela costa Mediterrânea em “Pirate Bay”, inclusive arriscanho um espanhol ao interpretarem os piratas liderados pelo capitão Sanchez: “Cuanto te gusta la fiesta del mar? Afronta la eternidad”. Aqui, o prisma seguido é o som de cabaré. E claro, heavy metal.

Se na faixa anterior, os piratas diziam que não haveria como sair da baía, era hora de preparar a fuga na “The Great Escape”. A composição revela o lado mais clássico dos alemães, inclusive na parte virtuose. “Take Us Home” marca a volta para casa, Atlantis. E também o fim apoteótico deste capítulo.

É bem verdade que a banda se encontra em seus primeiros passos, afinal são apenas três álbuns de uma carreira que promete muitas costas exploradas. Mas, ao menos até o momento, Beyond The Borders é, de longe, o ápice criativo, deste nome com várias possibilidades.

Outro ponto a ser mencionado é o excelente trabalho de produção. A masterização foi feita no Hansen Studios em Ribe, Dinamarca. Por fim, todas as honras possíveis à fantástica arte da capa, um chamariz imediato para a audição. Candidato a clássico.

Ouça na íntegra abaixo:

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