Formação veterana do power metal retoma elementos clássicos enquanto mantém evolução natural
Por Luiz Athayde
Quando se fala no período que o power metal esteve em baixa, certamente haverá bandas que pouco ou nada sofreram com isso. E uma delas, claro, é o Kamelot.
Formada na classe de 1991, na capital americana do Death Metal, em Tampa, Flórida, a proposta sempre foi mesclar power metal, progressivo e metal sinfônico. Atualmente só restam o guitarrista e líder Thomas Youngblood e o baixista Sean Tibbetts, que na verdade gravou a demo editada naquele ano, e voltou somente em 2010, reestreando com Poetry for the Poisoned.
O line-up é completado com os alemães Oliver Pelotai (teclado) e Alex Landenburg (bateria), e o vocalista sueco Tommy Karevik (Seventh Wonder), devidamente integrado ao grupo desde 2012.
Ainda que o núcleo seja Youngblood, tantas trocas de integrantes por vezes acaba influenciando no som. E com o passar dos anos, o que aconteceu de essencial foi o uso massivo de elementos já presentes na sonoridade. Como em seu décimo terceiro álbum de estúdio, The Awakening, recém-editado pela Napalm Records.
Essa linha temporal parcialmente traçada aqui não inclui os dois primeiros álbuns, Eternity (1995), e o fantástico Dominion (1997), do qual contavam com Mark Vanderbilt no vocal. Mas da bem-sucedida era Roy Khan, onde o som do Kamelot realmente se definiu; ou, quando acertaram sua própria fórmula.
A fim de manter a mesma, incluindo o resultado final que você ouve nas caixas de som, a banda foi no certo: Sascha Paeth (Angra, Rhapsody of Fire, Shaman, Avantasia, etc) na produção, e Jacob Hansen (Pyramaze, Anubis Gate) nos trabalhos de mixagem e masterização. Total de 13 faixas.
Entre elas, alguns destaques e possíveis sucessos ao vivo. “The Great Divide” é uma delas, já que soa em seu formato clássico, mas também superlativa. “Eventide” foi um singles compartilhados e traz ecos de gothic e até groove metal – algo já esboçado na discografia.
Em “One More Flag In The Ground”, o alinhamento é com o Zeitgeist metálico: moderno, intricado, dotado de um grande refrão. Mas se devo apontar um pico no gráfico imaginário, este é “Opus Of The Night (Ghost Requiem)”. Nesta, há uma conexão direta com o álbum Ghost Opera (2007). Youngblood comentou:
“Esta é a continuação inspiradora de uma história de 15 anos atrás. A ressurreição e a resolução de um sonho que nunca se realizou e o impacto curativo que a música tem sobre o coração e a mente humana. Não importa o quanto estejam afetados”. No âmbito musical, ela traz o dinamismo característico das composições da banda. Quem participa aqui é Tina Guo. Fantástica.
Outra digna de menção é a pesadíssima “Nightsky”. Na verdade, se trata de uma faixa que poderia muito bem ter entrado em The Shadow Theory (2018), dado seu teor futurista. Agora, o Kamelot realmente tradicional aparece em “New Babylon”. Não à toa, Simone Simons (Epica) e Melissa Bonny (Ad Infinitum) são as vocalistas convidadas para dar um brilho à música.
Como em praticamente todos os discos, há de ser ao menos uma balada. E aqui os ânimos são acalmados com a folk e bela “Midsummer’s Eve” (com Tina Guo), mas sobretudo na cinematográfica “Willow”.
Em suma, o novo trabalho do Kamelot soa como um “em time que está ganhando não se mexe”, ao mesmo tempo que lançam mão de uma experimentação aqui e ali. Vide “My Pantheon (Forevermore)” ao flertarem com o metal extremo. É um registro certeiro na sua proposta como arte e, sejamos sinceros, como mercado. E por esse mesmo motivo que The Awakening deve grudar em vários ouvidos por muito tempo.
Ouça o álbum na íntegra a seguir: