Segundo ataque do grupo alemão é um deleite pela velha escolha do heavy metal tradicional
Por Luiz Athayde
É sabido pelos que possuem um mínimo de bom senso, que o heavy metal é uma espécie de ‘pré-moldado’ do rock, com sua construção para caber em um espaço medido. Em outras palavras, criar algo surpreendente lá em 2000 já era difícil, imagine 23 anos depois.
Bom, felizmente generalizar não é o forte por esses lados – caso contrário não haveria sentido o Musical Fortress existir – e, sendo assim, podemos encontrar gratas surpresas. Neste momento me refiro à banda alemã The Night Eternal, em especial seu segundo álbum de estúdio, Fortune, recém-lançado pela Ván Records.
Sua estrada, ao menos no âmbito discográfico, se iniciou em 2019 com o autointitulado EP, e sequenciado pelo disco debut Moonlit Cross (2021).
Desde sua gênese, a proposta já era atraente: heavy metal nos moldes tradicionais. Ou seja, sombrio, pesado, melódico. Cativante. Cortesia de algumas passagens velozes que instigam o ouvinte imaginar cenas na cabeça – como ação nos filmes de terror.
O line-up é composto pelo vocalista Ricardo Baum, os guitarristas Henry e Rob Richter, o baixista Jones Nühlen e o baterista Aleister Präkelt. E foi essa brigada que assinou o registro, que teve Marco Brinkmann e Arthur Rizk nos trabalhos de produção e masterização, respectivamente.
A continuação do disco anterior não poderia ser mais natural. No entanto, são especificamente ao longo destas nova faixas que se ouve uma acentuação das influências desse promissor grupo de Essen. Sim, aqui você vai ouvir de tudo um pouco; Danzig, Thin Lizzy, Judas Priest, Ozzy Osbourne, Mercyful Fate…
Quando mencionei a palavra ‘sombrio’ não foi à toa. O álbum já abre com o single “In Tartarus”; praticamente uma ode à atmosfera provida por King Diamond antes de partir para a carreira solo, ainda nos anos 80. Impossível também não destacar o trimbre de Ricardo, ao se mostrar uma versão mais dramática de Glenn Danzig. Sensacional.
Não bastasse isso, “Prince Of Darkness” surge logo como segunda faixa. Claro que esta também figurou o combo single e videoclipe. Pudera: ponto alto, e minha óbvia aposta para incendiar o público nas apresentações ao vivo. Qualquer conexão com Bark At The Moon (1983), dele mesmo, Ozzy, dificilmente seria uma mera coincidência.
Em “We Praise Death”, a banda mostra que sua energia está longe de se dissipar. O foco é o equilíbrio do peso e da melodia, tendo a noite como prisma. Na verdade, ao ouvir essa música, é possível visualizar luzes penetrarem em um cemitério antigo, antes da banda apanhar a próxima vítima.
Agora, o que dizer do Iron Maiden? Influência de onze entre dez bandas do gênero. Que o diga “Ionean Sea”. Embora esses caras sempre tenham o cuidado de soar o mais autoral possível – e em vários momentos, conseguem.
Outra forte candidata a melhor faixa é “Run With The Wolves”. A intro apresenta conexões íntimas com Running Wild, mas seu andamento migra para um rumo próprio e extremamente melódico. No entanto, “Prometheus Unbound” soa mais como se viesse algo de death metal, mas não: é apenas o The Night Eternal sendo assombroso como usual.
“The Requiem” acena para o lado nu da banda, em formato acústico. Também é onde você pode dar uma respirada após tanta carga de riffs e uma inesgotável fonte de energia vinda de Ricardo. Se trata de uma ponte para a mais pesada do disco, “Between The Worlds”, escolhida para encerrar mais um ciclo.
Em resumo, mais que um apanhado de faixas, Fatale é um passeio moderno pelos anos 70 e 80, mas sobretudo um verdadeiro deleite para ouvidos viciados na velha escola, que gerou nomes no mínimo merecedores de continuação do legado. Discaço.
Ouça o álbum na íntegra a seguir: