Tentativa de soar comercial acelerou o processo de decomposição interna da abóbora alemã
Por Luiz Athayde
Neste exato dia, na classe de mil novecentos e noventa e três, o Helloween editava seu quinto álbum de estúdio via carimbo EMI. O foi no mínimo sugestivo: Chameleon.
Àquela altura, a cor abóbora de já não se encontrava há um bom tempo paleta da banda alemã de heavy metal gerada em Hamburgo 10 anos antes. O mote era lançar mão das tonalidades do hard rock. Em outras palavras, adotar uma via comercial, a fim de ampliar seu público, mas também por um outro motivo:
“Estávamos com uma dívida de dois milhões de marcos alemães (moeda antes do euro) e tentando nos livrar daquilo de alguma maneira”, disse o guitarrista Michael Weikath ao portal The Metal Voice. “A gente achou que se fizesse um álbum comercial, funcionaria”.
O sucessor de Pink Bubbles Go Ape, de 1991, trouxe a continuação (por pouco tempo) da formação que consistia, além de Weikath, o vocalista Michael Kiske, o baixista Markus Grosskopf, o saudoso baterista Ingo Schwichtenberg e o ainda novato Roland Grapow.
Mas o disco estava longe de ser um trabalho colaborativo. Todo mundo queria registrar uma composição no mesmo, e o resultado acabou sendo para lá de individual. Inclusive Kiske confirmou que era isso mesmo:
“Eram três caras fazendo seus discos solo sob o nome Helloween”, disse o vocalista ao site Eonmusic em 2021. “‘I Believe’ [onde mostra seu lado religioso] e ‘Longing’ são as minhas favoritas. Não é um álbum ruim, foi muito legal gravar. Tínhamos a NDR [Elbphilharmonie Orchestra], 25 pessoas registrando cordas e trompas em ‘Longing’. Não eram teclados, eram realmente músicos tocando.”
Outra composição assinada por Kiske é “When The Sinner”, single que serviu para mostrar a nova cara do Helloween; AOR em sua forma mais radiofônica. Já Weikath, como sempre, equilibrava as coisas com músicas mais pesadas, ainda que distantes dos clássicos de outrora. Vide “Giants”, e a tentativa de soar um Beatles mais nervoso em “Revolution Now”.
Por outro lado, Roland Grapow mostrava uma nítida procura por um direcionamento. Se “I Don’t Wanna Cry No More” é uma balada clichê no melhor estilo das bandas da segunda divisão do hard rock, “Step Out Of Hell” se destaca por deixar o melodic rock com um pouco mais de potência. Outra polarização está na rocker estilo musical da Broadway, “Crazy Cat”, e a bluesy “Music”.
A produção leva a assinatura da banda com o parceiro de longa data Tommy Hansen, e os trabalhos de mixagem e masterização ficaram a cargo respectivamente de Michael Wagener (Dokken, Great White, Poison) e Stephen Marcussen.
O esforço não vale a pena. Chameleon foi um fracasso de público e crítica, fazendo com que a gravadora chutasse o Helloween de seu cast. No entanto, a turnê seguiu, ainda que aos trancos e barrancos. Ingo sofria de esquizofrenia, e também era viciado em drogas. Com isso, a solução foi encontrar outro baterista. Quem assumiu foi Ritchie Abdel-Nabi.
Logo na sequência Michael Kiske saiu do grupo com feridas abertas que só seriam curadas muitos anos depois.
Nas paradas, o disco alcançou as melhores posições na Alemanha (35º lugar), Suécia (35º), Suíça (30º), Finlândia (15º) e Japão (8º lugar). No âmbito dos licenciamentos, Chameleon ganhou lançamento mundial em CD, cassete e LP. No Brasil, até por se tratar de uma major, o álbum recebeu edições em vinil duplo (1993) e CD (1994).
Entre as faixas da versão estendida de 2006, estão vários b-sides incluindo duas composições de Markus Grosskopf, “Cut in the Middle” e “Ain’t Got Nothing Better”.
When the Info:
+ “Step Out Of Hell” é uma composição extraída da antiga banda de Roland Grapow, Rampage, originalmente intitulada “Victims of Rock”
+ A faixa “I Don’t Wanna Cry No More” é um tributo de Grapow a seu falecido irmão Rainer.