Registro cumpre o esperado papel de manter o alto nível de composições do seu antecessor Vera Cruz
Por Luiz Athayde
O cantor, compositor e produtor musical Edu Falaschi acrescentou mais um álbum à sua prateleira sônica. Dessa vez, trata-se de Eldorado, segunda parte da trilogia iniciada no fantástico Vera Cruz, de 2021.
Narrativamente, aliás, é a continuação da saga do personagem Jorge, ambientado no ano 1501.
“Com a derrota do exército da Ordem da Cruz de Nero, durante a batalha final na ‘Ilha de Vera Cruz’ contra Jorge, seus aliados indígenas e o exército da Ordem de Cristo, seu líder, o Bispo Negro, ordena que seus navios remanescentes batam em retirada e voltem para Portugal. Mas durante o retorno, com a frota quase que totalmente destruída, o maléfico líder e seu exército são surpreendidos por uma tempestade sem precedentes, que os desviou de seu destino final.
Levados a mares nunca antes navegados por eles, após a tempestade, uma estranha calmaria se fez. Quase sem vida, com suas caravelas totalmente destruídas, Bispo Negro e parte de seus homens acordam em um novo mundo. Uma terra desconhecida, sob olhos curiosos e assustados de quem os vigiava a distância…
A mata densa, o sibilar da serpente, o canto do Quetzal e o rugido do Jaguar estavam por revelar o futuro do Bispo Negro, seus planos, novas alianças com o navegador espanhol Hernán Cortez, que em 1519, fundou a primeira cidade do México que curiosamente foi denominada ‘Villa Rica de la Vera Cruz’.”
Pela sinopse já era possível especular que a vela da embarcação formada pelo capitão Edu, mais Aquiles Priester (bateria), Fabio Laguna (teclado), Roberto Barros (guitarra), Diogo Mafra (guitarra) e Raphael Dafras (baixo) apontaria para a latinidade.
Obviamente, isso aconteceu, e para esta feita, alguns convidados-chave marcaram presença. A exemplo da cantora, compositora e ativista guatemalteca Sara Curruchich, e o cantor boliviano José Andrëa, ex-vocalista do lendário Mägo de Oz, da Espanha.
No mais, conhecidos da cena metálica nacional, mas sobretudo da própria órbita de Edu: Fábio Caldeira (Maestrick), Raíssa Ramos e Mi Alvelli nos backing vocals; e Junior Carelli (Noturnall) no piano.
Porém, vale lembrar que a essa altura, o fator surpresa já não existe mais. Estamos cientes que a configuração é power metal, com máxima na virtuose. O que não quer dizer que o álbum careça de momentos do tipo.
Na verdade, a sensação é de que Edu não quer conversa. Ou seja, canções velozes, sim, mas sem tantos interlúdios e introduções longas (e necessárias pelo contexto) como seu antecessor.
Ainda assim, o disco te envolve. E como. “Quetzalcóatl” retoma a pegada cinematográfica, como um trailer de um longa grandioso – créditos a Pablo Greg, novamente autor das orquestrações presentes no play.
É quando vem “Señores Del Mar (Wield the Sword)”, preparando o ouvinte para o que virá a seguir. Após as honras feitas por Andrëa, o ‘pau quebra’ com o que o ex-vocalista do Angra sabe fazer melhor: power metal para lá de melodioso, rápido e “firulento”. Neste caso, ela graças a Roberto Barros, há tempos uma peça importante na formação.
Quem sentia sede dos tempos do Almah certamente sairá saciado ao ouvir “Sacrifice”, um dos pontos altos, diga-se. Aquela abordagem prog aliada ao peso e a dinâmica que tanto marcaram o trabalho do finado (?) grupo, aqui simplesmente cai como uma luva.
Que Falaschi é um baladeiro assumido isso todo mundo também sabe. E a primeira a pintar no álbum é “Empty Shell”. Seu refrão não chega a ter o mesmo poder de grude que “Skies in your Eyes”, mas o solo é matador. Obrigado, Tito Falaschi.
A ‘carne de vaca’, por assim dizer, aparece sob o título “Tenochtitlán”. Estrategicamente, foi o carro-chefe para impulsionar o pré-lançamento de Eldorado. Ela foi dividida pelo público entre mais uma faixa sensacional de um lado, e mais do mesmo de outro. Bom, fico com o sensacional, justamente porque é… power metal. E o melhor, praticamente todo o currículo do Edu está ali, com um pouco de cada banda que ele integrou.
Por outro lado, o que faltou acima, sobrou na faixa-título, que inclusive periga ser a melhor do álbum. O flerte com o AOR te envolve de imediato, com Falaschi sinalizando os melhores momentos de nomes como Journey, Steelhouse Lane e correligionários.
No entanto, o que se segue é uma festança progressiva estilo Almah/Dream Theater (e Angra, fase Aurora Consurgens) para ninguém botar defeito. Claro que nesse ínterim, ainda há passagens acústicas (Fabio Lima ataca novamente), mais power metal e vozes nas alturas.
Sara aparece em seguida, mas somente para figurar o interlúdio. Seu brilho é tão evidente que o anseio por uma faixa maior com sua voz é inevitável. Ela abre alas para a poderosa “Reign of Bones”, mais uma no estilo clássico do heavy metal melódico.
Em “Suddenly”, o tecladista do Noturnall faz a escada para a voz de Falaschi. Sim, balada na certa. Já “Wings of Light” traz conexões diretas com os tempos de Rebirth (disco do Angra de 2001), o que é algo natural – e incessantemente explicado por Edu em entrevistas anteriores.
Acontece que, diferente daquele período, ele não se prendeu aos tradicionais 4 minutos de duração. Pelo contrário, a dobrou para explorar melhor a sonoridade proposta. Já “In Sorrow” é mais uma balada com cara de trilha sonora, e faz o papel de encerrar esse capítulo da saga.
Se Vera Cruz foi a surpresa, um álbum para ser apreciado na totalidade (acompanhando cada momento da história), Eldorado foi (e é) a óbvia continuação. Mas, o importante é que o resultado final é tão excelente tecnicamente, e talvez ainda mais cativante.
Esse “talvez” se deve apenas pelo humor; caso esteja para algo mais forte e direto, Eldorado é “O” disco. Novo gol de placa de Edu Falaschi. Que venha o próximo capítulo.
Ainda:
+ Eldorado teve produção assinadas por Edu Falaschi e Roberto Barros, tendo como co-produtor Paulo Albino. Os trabalhos de mixagem e masterização ficaram novamente a cargo de Dennis Ward.
Ouça o álbum na íntegra a seguir:
3 thoughts on “Edu Falaschi – Eldorado (2023)”