Menos agressivo, mais melódico, porém, na beira de seus melhores álbuns
Por Luiz Athayde
Ao que tudo indica, o jeito é se contentar com as produções super modernas e, em muitos casos, artificiais na esfera metálica. Vocais cheios de efeitos, bateria trigada até a medula, som de guitarra saturado e baixo quase inexistente.
Bom, o lance no parágrafo acima não é se deixar cair na armadilha do metaleiro ancião que não ouve nada pós-1989. Mas o quanto este Zeitgeist, por assim dizer, vem impactando nos lançamentos sônicos; iguais entre si, e de um estilo que nasceu com poucas possibilidades de ampliação estética e sonora.
No entanto (no entanto…), nesse futuro imperfeito, existe uma banda que está nessa praticamente desde sua gênese: Labÿrinth. Lá na classe de 1996, ano de seu primeiro álbum, No Limits, ainda com Fabio Lione nos vocais, a máxima consistia em trazer um ar mais contemporâneo ao power metal, a fim de se distanciar do padrão medieval do estilo.
Esse viés teve seu ápice criativo logo no subsequente Return to Heaven Denied (1998), já com o vocalista Roberto Tiranti na formação. Clássico, porém, ainda raríssimo de achar em CD. O apogeu, digamos, no que diz respeito a encontrar a fórmula, chegou em 2003 com o poderoso disco autointitulado.
E como deu certo: power metal com elementos de progressivo e uns assertivos conta-gotas de thrash. Tudo aliado a tudo (ou parte do) que a tecnologia proporcionava para deixar a sonoridade atualizada.
Foi a chave de ignição para a banda liderada pelo guitarrista Olaf Thörsen (nome artístico de Carlo Andrea Magnani) lançar uma sequência de álbuns nesta pegada. Destaque para Freeman (2005), um registro ousado, inclusive no uso de timbres; e sua continuação natural, 6 Days to Nowhere (2007).
Todavia, como acontece com toda banda que possui uma discografia extensa, surge a famosa sinuca de bico: ou mantém o que foi feito até então, ou muda completamente a sonoridade. A saída veio pela tacada de título In the Vanishing Echoes of Goodbye, que consiste nas melhores abordagens feitas ao longo dessas duas décadas para registrar na prateleira.
Sim, toda aquela parafernália envolvendo trigger, saturação e afins continuam presentes ali, mas de um jeito que funcionou. Como, na verdade, funciona há muito tempo na banda. A diferença está apenas na diminuição sutil da agressividade em relação ao seu antecessor de 2021, Welcome to the Absurd Circus.
Agora, é a vez das melodias voltarem a tomar corpo das canções, sem deixar de lado o que moldou a banda nos últimos anos. Como na abertura, “Welcome Twilight”, com o power/thrash dos tempos de “Return…” soando atual. “Accept The Changes” deixa claro aos relutantes a mudanças, embora musicalmente, não se trate de nada novo na discografia dos italianos.
Mas é em “Out of Place” que você percebe o retorno da veia mais melódica, podendo ser equiparada a qualquer power balad feita pelo grupo nos anos 90. “At The Rainbow’s End” é power metal nos moldes clássicos, com refrão pegajoso e tudo. Nem preciso dizer que figura um dos pontos altos do play juntamente com “The Right Side Of This World”; esta, claramente influenciada por Iron Maiden e Judas Priest.
A sequência é pela ótima “The Healing”. Ela lança mão de sonoridades eletrônicas e acústicas de um jeito que cativa — cortesia da conexão com o rock progressivo. Diferente de “Heading For Nowhere”, onde o papo é com o thrash metal. “Mass Distraction” é tão boa quanto, só que seguindo pela via do hard rock.
Caminhando para o desfecho, “To The Son I Never Had” mostra que os caras realmente gostam de uma balada. Esta, no entanto, chega a ser ok. “Inhuman Race” encerra nos moldes tradicionais para instigar o repeat. De certa forma, é também a faixa que resume o novo momento da formação gerada na cidade de Massa, em 1994.
In the Vanishing Echoes of Goodbye vale a conferida por se tratar de uma espécie de caminho do meio entre o que as bandas novas andam fazendo e o power metal mais tradicional. Isso, em meio a nuances que ainda fazem do Labÿrinth uma banda única ante seus contemporâneos.
Não chega a ser um clássico, entretanto, consegue chegar na beira de seus principais lançamentos. Nota? Nenhuma, porque aqui a gente não dá nota para disco. Apenas ouça, preferencialmente em CD — via Frontiers Music Srl neste link, e pela Shinigami Records no Brasil em breve — e com bons fones de ouvido. Ou abaixo, nos serviços de streaming.