Helloween – S/T (2021)

Abóboras do passado e do presente se uniram para moldar o que pode ser o futuro da banda pioneira do power metal melódico

Por Luiz Athayde

O Helloween está de volta! Bom, obviamente que eles sempre estiveram por aí, independente de modas e tendências mercadológicas afins. Desde sua gênese, ainda assinando como Gentry (e outros nomes posteriores), a subliminar palavra de ordem era se renovar, ao menos até achar seu som.

E foi o que aconteceu ao lançarem o mega clássico Walls of Jericho em 1985, mas especialmente, com o advento dos Keeper of the Seven Keys Part I  e II, registros que simplesmente influenciaram 11 entre 10 nomes do universo batizado de power metal (ou heavy metal melódico no Brasil), graças ao poderio criativo do guitarrista e mentor (e eventual vocalista) Kai Hansen, o também guitarrista Michael Weikath, e o lendário cantor Michael Kiske.

Não menos importante, já com Andi Deris no comando dos microfones, temos Master of the Rings  (1994) e The Time of the Oath  (1996). Agora imagine uma formação com o principal destas duas eras, incluindo o ‘original de fábrica’ Markus Grosskopf (baixo), mais os integrantes atuais Sascha Gerstner (guitarra) e Dani Löble (bateria) lançando um álbum novo em folha… Pois é, o que parecia ser impossível, aconteceu e com o único título possível: Helloween.

O apreço deles por faixas longas nunca foi uma novidade, mas, ainda assim, de grande surpresa o primeiro single ser “Skyfall”. Mas ao ouvi-la você percebe que foi a escolha perfeita; trajeto imediato pelo túnel do tempo até 1988, na época do Keeper 2, com direito as famosas linhas vocais de Kiske aliadas ao torpedo melódico que a composição traz.

Só daí a expectativa em torno do que viria adiante era natural, também corroborada com a produção do mais que especialista Charlie Bauerfeind (Gamma Ray, Angra, Freedom Call e claro, Helloween) e Dennis Ward (Angra, Pink Cream 69, Unisonic, etc), ou seja, já se sabia que o aguardado disco não seria mais do mesmo. Não na parte técnica.

O nível estratégico também foi assertivo. Ao dar o play, damos de cara com uma faixa que também remete aos tempos do segundo Keeper. “Out for the Glory” são os germânicos em seu modo clássico: rápido, rasteiro e bem “power”, como não poderia deixar de ser.

 

 

Com Deris na voz principal, “Fear of the Fallen” traz o Helloween quase chegando nos anos 2000, mas sem o clima ruim que perdurou aquele período.

“Best Time” apresenta uma aura de continuação do hit “I Want Out”, inclusive por conta de seu refrão mega pegajoso. Possível single e videoclipe? Quem sabe. Já “Mass Pollution” chega como a mais forte do disco, se não a mais potente. O baixo sujo de Markus na abertura dá a ignição à trilha perfeita para um road movie metálico.

De um modo geral, as faixas 4, 5 ou 6 costumam ser baladas, mas não é o caso aqui. “Angels”. Seu andamento cadenciado permite que quem brilhe seja o batera Löble – vale lembrar que a bateria usada na gravação foi a de ninguém menos que o saudoso Ingo Schwichtenberg.

“Rise Without Chains” é uma típica canção para o estilo de Deris, e por isso mesmo ela ‘pega’ logo de cara. Sem amolecer no pique,  “Indestructible” lança mão mais uma vez do refrão para evitar que incautos possam pular faixa.

Obviamente que nem tudo é massivamente concentrado no passado, e é aí que entra “Robot King”, com a abordagem mais atualizada do Helloween, em especial dos álbuns 7 Sinners  (2010) e Straight Out of Hell  (2013), ainda que sem deixar de flertar com elementos da era clássica. Não à toa, é Deris que mais uma vez toma as rédeas, mas com Kiske brilhando nos (não tão) backing vocals.

Não, nada de baladas ainda. E nem recomendo esperar por tal. A próxima música a tomar de assalto é “Cyanide”, com sua pegada para lá de power/heavy tradicional. A pesadíssima “Down in the Dumps” também flerta com os novos tempos do grupo, mas, ao mesmo tempo, nos faz imaginar como teriam sido os últimos registros com o vocalista dos dois primeiros Keepers. Na verdade, isso é possível ao vivo, vai depender de quem escolher o setlist da turnê.

Girando em torno do fim, a instrumental “Orbit” é a intro do já citado primeiro e bombástico single. Para quem conseguir garantir a edição limitada em vinil duplo juntamente com 2 CDs (álbum + bônus) ainda será agraciado com mais duas inéditas: a old school  “Golden Times” e a ótima “Save My Hide”, que mais lembra Deris dos tempos de Pink Cream 69.

Em suma, estamos diante de mais um “já nasceu clássico” graças ao equilíbrio surpreendente entre o velho e o novo, assinado por um time que dispensa comentários  e credenciais, já que se trata dos criadores do power metal melódico – ao menos pelo senso comum.

Ouça o álbum abaixo:

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