Abre alas para a velha porque estamos falando de quem inventou tudo isso
Por Luiz Athayde
Sinceramente, o que, a essa altura, é necessário dizer sobre quem já lançou clássicos como British Steel (1980), Screaming For Vengeance (1982) Defenders Of The Faith (1986) e Painkiller (1990)?
Com alguns desses, o Judas Priest ajudou a moldar e consolidar o que há muito tempo é chamado de Heavy Metal. Ao menos na sua mais pura forma.
Pois bem, mesmo não tendo mais nada para provar a ninguém, os britânicos resolveram abrir 2024 com mais um álbum de estúdio, Invincible Shield.
Seu antecessor, Firepower (2018), já havia sido bem recebido pelo público e pela crítica. Também, pudera: nele, o “Metal God” Rob Halford, Ian Hill, Scott Travis, Glenn Tipton (há tempos sofrendo com Parkinson), Richie Faulkoner e o produtor Andy Sneap seguiram basicamente a fórmula de sua bíblia de 1990, com as devidas proporções atuais na produção.
E como esse novo trabalho, não fizeram tão diferente. Na verdade, o ponto chave está justamente na frase pós-vírgula: não houve tanta diferença, mas, de alguma forma, aconteceu.
Todavia, ainda assim, são abordagens já conhecidas dos fãs, mas que dão certo. E como.
Produzido por Sneap, o primeiro registro carimbado pela Sony Music traz 11 faixas (e mais três na edição deluxe) em um passeio por praticamente todas as fases da banda. Inclusive, seu começo já surpreende pela intro. Inicialmente, você não sabe em “Panic Attack” virá algo na linha de Turbo (1986), até a música começar de fato e explodir em uma espécie de Painkiller “maideniano”.
Já “The Serpent and the King” se mostra uma versão mais veloz e furiosa de “Hell Bent For Leather”. Às vezes, nada como ter disponível o próprio catálogo para servir de inspiração. Claro que isso é uma faca de dois gumes, mas neste caso, não poderia ter dado mais certo.
Até aqui, nada de descanso. A faixa-título pega o ouvinte logo no primeiro riff, que só para variar, extrai mais uma vez a parte mais irada (de raiva mesmo) do metal tradicional. Simplesmente fantástica.
Em “Devil in Disguise”, o peso e a consistência abrem espaço para o groove. Porém, como se trata de uma sonoridade para lá de explorada (aliada ao tipo de produção), ela soa como se fosse uma música do Primal Fear.
“Gates of Hell” volta no começo dos anos 80, com sua introdução épica, abrindo para uma canção feita sob medida para pegar a estrada. Inclusive, essa poderia figurar qualquer álbum do Saxon, de tão “asfalto”.
A sequência se dá com a primeira grande surpresa do disco, “Crown of Horns”. Ele bebe na década de 70, mas sem necessariamente soar setentista. Canção única no álbum, e também, com facilidade, um dos melhores momentos.
Para não perder, digamos, o pique, surge “As God is my Witness” para mostrar que a agressividade é a máxima por aqui. Qualquer conexão que vier à cabeça está valendo, afinal, trata-se de Judas Priest clássico. Ou seja, com muita raiva, sem perder o fio da melodia.
Um dos esquentas do pré-lançamento de Invicible Shield foi “Trial By Fire”. Com justiça. Seu lance é a cadência sob contratempos. Além de, como sempre, peso. Muito peso.
É também onde Halford brilha com sua voz. E não me refiro, como a maioria dos metaleiros pensa, com agudos, e sim pela intensidade de sua interpretação.
“Escape From Reality” faz um leve aceno ao saudoso Fight, figurando também outro grande momento neste novo trabalho. “Sons of Thunder” vai pelo mesmo caminho, porém, remetendo ao que o Deus do Metal fez em sua ótima carreira solo.
O fechamento ocorre com um pequeno gosto caso resolvessem gravar um registro inteiramente na linha de Killing Machine (1978). “Giants in the Sky” empolga pelo balanço e por sua dinâmica. Bem ‘rock and roll metálico’.
E por falar em rock, os bônus não ficam nada atrás do repertório principal. Vide “Fight of Your Life”, devidamente estacionada naquele período. Aliás, essa soa perfeita para apresentações ao vivo. Veremos.
Quanto a “Vicious Circle”, trata-se de mais um delicioso milho aos porcos e sem cara de lado B. Por último, “The Lodger” é a que mais inove dentro da própria esfera, já que traz uma forte aura de drama/suspense cinematográfico. Uma pena não constar na edição Standart do álbum.
No fim das contas, o Judas Priest de 2024 é uma banda alinhada a seus contemporâneos: podem se aposentar, mas simplesmente não conseguem. E não pelo dinheiro, mas pela paixão pela música, e a necessidade de se manter ativo.
Sorte a nossa que nesse percurso, ainda temos a chance de ouvir mais álbum fantástico, na verdade, o melhor em mais de 30 anos. Discaço.
Ouça Invincible Shield na íntegra a seguir: